quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A verdadeira Independência sempre existirá?



O talentoso Pedro Américo soube registrar para a posteridade o momento em
que, às margens do Ipiranga, Dom Pedro I consumou nossa Independência.
Toda a cena produzida pelo artista, nos mostra pelos movimentos dos personagens com colorido de toda a tela, uma ernorme representação relevância do momento e as
promessas que pairavam sobre a nação que ali se concretizava.
Esse momento histórico não esteve envolto nos estertores revolucionários que
caracterizaram outros processos independentistas, nem pode ser visto como um momento de
ruptura com nosso passado.
A Independência do Brasil, ainda que marcada mais proximamente por certas
influências políticas controversas, foi, a bem dizer, o culminar de um longo processo de
emancipação, conduzido com sabedoria por nossos monarcas, sem um planejamento dirigista,
mas ao sabor das circunstâncias históricas.
Processo esse que, acelerado pelas guerras e revoluções que abalaram o Continente
europeu, teve na transferência de D. João, Príncipe Regente e da Corte portuguesa para nossa
terra, um momento decisivo para a definição da nacionalidade.
O Brasil independente que surgiu a 7 de setembro de 1822 era, pois, a continuação
desse germinar social, cultural, político e econômico, iniciado mais de três séculos antes, fruto
da operosidade e da fé da nação lusa.
A permanência da própria Dinastia, sua não derrocada ou substituição violenta, foram
disso prova e, ao mesmo tempo, fator de estabilidade.
Um dos legados mais preciosos desse processo histórico foi, por certo, nossa
integridade territorial e nossa unidade social, em um tão vasto e tão diversificado território.
O Brasil tornou-se um Império, mas jamais almejou a dominação das nações vizinhas.
Pelo contrário, procurou sempre manter com elas relações fraternas e até em suas disputas
diplomáticas soube agir com dignidade, com altivez, com senso de justiça e com habilidade,
jamais com agressividade ou prepotência.
Se em determinada altura se envolveu em um conflito bélico, de consideráveis
proporções, não foi a ele movido pelo desejo da conquista ou da dominação, mas para repelir a
agressão injusta.
Aliás, o Brasil – onde um frutífero e vasto processo de miscigenação, entre portugueses,
indígenas e negros, havia plasmado um povo com características únicas – soube aqui acolher
gentes provenientes das mais variadas regiões do mundo. Europeus de todas as latitudes e
origens étnicas, até orientais das mais remotas paragens, muitas vezes fustigados por
circunstâncias políticas ou sociais dolorosas, aqui se radicaram e prosperaram, acolhidos com
benevolência, sob a solicitude de nossos Imperadores, usufruindo dessa atmosfera de
cordialidade, sem rancores nem tensões, que constitui um dos encantos da convivência
brasileira.
Ao celebrarmos a semana da Pátria é, pois, com júbilo que considero tal passado, a
tantos títulos inspirador. Mas é também com inegável apreensão que me volto para um
presente convulsionado e para um futuro cada vez mais incerto.

Não é minha intenção debruçar-me aqui sobre os inúmeros desmandos do regime
republicano, que estão à vista de todos, e que não fazem senão ressaltar a inorganicidade de
um regime político que, pela violência abrupta, veio truncar essa continuidade benéfica.
Desmandos esses que levam a opinião pública a não ver na classe política a expressão autêntica
do que o Brasil pensa e quer.
Minha atenção é atraída para um processo mais subtil e, entretanto, mais nocivo, que
atinge nossa vida pública.
Em um ambiente de aparente normalidade, sem que o Brasil seja alvo de uma agressão
militar externa, múltiplos fatores vão contribuindo para corroer no seu âmago esta
continuidade histórica, tão intrínseca a nossa vida como Nação independente.
Vozes políticas apelam a uma “refundação” do País, prometendo fazer aos brasileiros –
sobretudo aos menos favorecidos – uma justiça que lhes teria sido sistematicamente negada.
Para tal fim, jogam na vala comum da História todo o nosso passado, considerado, numa
distorção falaciosa, fonte de todos os males que o País atravessa.
Apelando a estranhas doutrinas sociológicas, antropológicas, ambientalistas e até
religiosas, paladinos de ideologias merecidamente sepultadas pela história recente maquiamnas
com novos contornos revolucionários e tentam introduzir na vida do País fatores próprios a
desagregar nossa organização político-social.

Partidários de um verdadeiro e extremado apartheid cultural, desejam confinar nossos
irmãos indígenas a uma estagnação deteriorante, negando-lhes as vantagens de um sadio
progresso e, sobretudo, os benefícios indizíveis da Verdade revelada, e reclamam para eles
imensas extensões de terras, que, a médio ou longo prazo, se tornarão enclaves
independentes, de onde, desde já, brasileiros são violenta e arbitrariamente expulsos, como se
deu recentemente em Roraima e se anuncia para breve em Mato Grosso do Sul.
Processo idêntico se dá com a chamada “revolução quilombola”, pela qual
comunidades ou indivíduos que se auto-intitulam remanescentes de quilombos, habilmente
manipulados por agitadores, reivindicam para si largas áreas do território nacional, em inteiro
desrespeito ao legítimo e estabelecido direito de propriedade.
Aliás, em todo este processo, o legítimo proprietário, sobretudo o rural, que com seu
esforço e dedicação tantos benefícios tem trazido ao País, inclusive na mais recente crise
econômico-financeira mundial, é o grande vilão a ser perseguido e, se possível, eliminado.
Vai igualmente sendo introduzida no Brasil uma política de classificação de raças, que
tenta negar e subverter a identidade nacional, claramente construída sobre a miscigenação,
com todos os seus corolários psico-sociais de harmonia e bom entendimento.
Eivado de preconceitos ideológicos, esse multiculturalismo segregacionista tenta impor
a política de “discriminação positiva” – com as chamadas cotas raciais – em nome da qual se
pretende criar o clima de conflito próprio a dilacerar nossa unidade.
Nossa diplomacia, famosa por seus grandes vultos, pela excelência e discrição de sua
atuação, percorre hoje, lamentavelmente, descaminhos perigosos, tão avessos a nossa índole
como nação independente.
O Brasil, que naturalmente alcança uma projeção internacional condizente à sua
importância, tem optado por alianças e posturas políticas no âmbito externo que podem
acarretar graves conseqüências para todos nós.
Em sua política exterior o governo brasileiro tem multiplicado suas alianças e seu apoio
a regimes ditatoriais, e utilizado fóruns internacionais para acobertar práticas tirânicas, o que
lhe tem valido severas críticas, provenientes dos mais variados quadrantes.
Além disso, no âmbito da América Latina, é cada vez mais aberta e reconhecida a
subserviência de nossa política externa a um projeto ideológico do chamado eixo bolivariano,
em nome do qual o governo tem abdicado de direitos e aceitado duríssimos golpes aos
interesses nacionais. Isso sem falar das estranhas alianças com regimes acobertadores ou até
promotores do terrorismo internacional.

Este elenco não tem a pretensão de ser exaustivo, mas apenas um enunciado dos
fatores que considero como graves ameaças a nossa autêntica independência, proclamada por
Dom Pedro I, a 7 de setembro de 1822, às margens do Ipiranga.
Creio ser dever de todos os brasileiros – e me dirijo, neste momento, com particular
solicitude aos que trazem vivas em seus corações as esperanças monárquicas – ter noção clara
de tais ameaças, estimular ativamente o debate a respeito das mesmas, evitando assim uma
apatia ou um comodismo que poderiam ser fatais, e trabalhar ativamente, sempre dentro dos
limites da legalidade, para evitar ao Brasil tais descaminhos.

Dom Pedro I, proclamador de nossa independência, houve por bem consagrar nosso País
a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. É para Ela que devemos nos voltar, também, rogando-Lhe que deite sobre o Brasil um olhar de benevolência misericordiosa, e com
suas bênçãos assegure ao Brasil a plenitude de sua independência, bem como o cumprimento
de sua providencial missão entre as nações.

Artigo com paráfrases do discurso de Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, no Rio de Janeiro, 13 de setembro de 2009 Disponível em http://www.monarquia.org.br/portal/